Isso porque, pelos artigos que leio no jornal
da denominação, em blogs de membros da Igreja (um dos quais fornecedor
constante de artigos para a página eletrônica desse mesmo jornal), no programa
Verdade e Vida, tenho a impressão de que há uma vigilância permanente contra
qualquer mínima evidência do que possa ser considerado um desvio da norma, um
alerta constante contra ideias que divirjam daquelas mais cristalizadas, uma
ânsia por “enquadrar” o autor de uma crítica mais incisiva. Observo, em suma,
um cenário em que a crítica não é bem vinda, e isso, é preciso dizer, é um mau
sinal.
Erigida sob o princípio
reformado de que a igreja deve estar sempre disposta a se reformar, a Igreja
Presbiteriana do Brasil deveria ser a primeira a reconhecer que essa reforma
constante só pode brotar em ambientes de livre crítica, em que aqueles que
ousam divergir da norma predominante não sejam vistos com desconfiança, mas
acolhidos como elementos importantes para o dinamismo da instituição.
As perguntas que lançamos a seguir podem servir como elementos para um diagnóstico: que acolhida estamos
dispostos a dar, enquanto presbiterianos, àquele que defenda a ordenação
feminina e aponte em sua negação uma discriminação contra o sexo feminino? O
pastor que opte por outros métodos de interpretação bíblica que não o
histórico-gramatical será olhado com simpatia por seus colegas que não abrem
mão dele? Uma proposta de adoção de outras confissões de fé ou mesmo de
revisões periódicas no corpo doutrinário adotado oficialmente pela igreja serão
acolhidos como elementos importantes para a sanidade confessional da igreja ou
receberão, antes, a ameaça da punição por desvio de conduta?
O olhar desconfiado para
as perguntas acima é revelador de uma situação que moldou com o tempo o modo de
ser das igrejas reformadas, entre as quais a IPB se inclui: apesar do que diz
nosso discurso, na prática não queremos nos reformar. Não gostamos de ser
contrariados e não estamos dispostos a aceitar sob a mesma placa denominacional
qualquer um que fuja às normas já estabelecidas.
Não achamos que a menção
às disposições legais previstas na Constituição da Igreja para a possibilidade
de propor reformas seja suficiente. Falamos, antes, de um clima perceptível em
debates, de um tom bastante agressivo em direção à diferença, de uma falta de
espaço para a pluralidade de ideias, discursos, leituras, propostas. A IPB
parece cada vez mais enrijecida em seu modo de ser. Onde fica, nela, o espaço
para que se reforme? Não é necessariamente a impossibilidade legal da mudança o
cerne do problema (embora a Constituição da Igreja seja bastante conservadora
quanto a essa possibilidade), mas a ausência de um ambiente de livre
manifestação de ideias.
Na prática, agiríamos
diferentemente da Igreja Católica se um de nossos membros escrevesse um livro
criticando algumas posturas na IPB, como as elencadas acima (ordenação de
mulheres, métodos variados de interpretação, discussão de aspectos
doutrinários), as quais, diga-se, são apenas exemplos pinçados de exemplos que
podem ser dobrados, quiçá multiplicados?
Na
época da Ditadura Militar no Brasil, ficou famoso o slogan que dizia “Brasil:
ame-o ou deixe-o”. A mensagem era bastante clara: não pense em transformá-lo.
Esses, no entanto, que queriam transformar o Brasil, nutriam um grande amor
pelo seu país. Não vivemos uma ditadura na IPB, felizmente, mas o clima de
desconfiança para com quem deseja transformações em seu meio não faz jus ao
amor que todos, não apenas os conservadores, nutrem por ela.
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