quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sinais que nos põem em alerta


            Assiste-se no âmbito da IPB a uma preocupante tendência advinda de certos discursos. O blog “tempora-mores”, por exemplo, de grande audiência não só na IPB, mas especialmente nela, até porque é a fonte de textos que frequentemente ocupam as indicações de leitura no site da própria igreja, postou dois textos defendendo de forma explícita a censura. O blog tece críticas a programações televisivas que não respeitariam decência ou moralidade, o que exporia crianças a exemplos de comportamento de exacerbada sensualidade, vocabulário reprovável, incentivo a vícios etc. No entanto, conquanto nós, do Princípio Protestante, sejamos amplamente favoráveis a uma regulação da mídia, não podemos deixar de apontar o perigo existente em uma defesa tão cristalina da ideia de “censura”. Se por mais não fosse, somente a associação que a palavra “censura” promove com a recente história brasileira em seus “anos de chumbo” já seria motivo suficiente para sua crítica. Censura é algo que se faz por meio da força, não do debate democrático, forma legítima de se lutar por programações televisivas de maior qualidade; é coerção de ideias e impedimento à livre manifestação individual (já legalmente reprimida quando incorre em crime). Censura, no Brasil, obrigou muita gente a se calar, a sair do país, a cercear sua manifestação artística. A defesa do uso do termo de maneira tão explícita só é possível para quem nutre simpatias com regimes totalitários, para quem, em nome da “moral e dos bons costumes” e dos “valores tradicionais da família” não hesitaria em apoiar um governo militar. Além disso, é flagrante a contradição desse discurso conservador, quando prega um Estado mínimo em questões econômicas – aquelas que, portanto, atacariam de forma frontal a gritante injustiça social em nosso país – mas defende sua presença de maneira impositiva em questões morais, como quando espera que ele legisle sobre o aborto e a censura.
            Um outro blog, dessa vez de Norma Braga, palestrante que ganha cada vez mais espaço em congressos promovidos por entidades evangélicas, postou um texto que trata o período da Ditadura Militar no Brasil como “um mal menor”, diante da ameaça de “terroristas treinados” que rondaria o país. Não faltaram comentários entusiasmados a suas ideias, o que mostra que o apoio à Ditadura no Brasil não está restrito aos círculos militares. Braga não deixou de criticar duramente os jovens que protestaram contra a comemoração realizada recentemente em um clube militar por ocasião de mais um aniversário da instauração da “revolução” de 64 no Brasil. Em seu texto, defende um debate sobre o tema da ditadura que não apele para radicalismos, mas não deixa de classificar gente como Fidel Castro de “demônio” e confessa nutrir “pouco, mas muito pouco respeito mesmo” por quem defenda ideais comunistas. 
            Junte-se a esses dois exemplos os discursos cada vez mais recorrentes sobre a “imoralidade nunca vista antes de forma tão desmedida” ou o “solapamento dos valores da família” e ainda “a escancarada perversão dos costumes”, frequentes em púlpitos e no programa “Verdade e vida” da IPB (queixas recorrentes em discursos moralistas de todos os tempos), e teremos a reprodução cada vez mais fiel do mesmo clima social que apoiou o Golpe de 64. Havia, na época, o mesmo clamor pelos “valores da família”, prato cheio para os milicos que se apresentaram como a salvação do país contra os “terríveis comunistas” que supostamente ameaçavam até mesmo a existência de igrejas cristãs. Não seria espanto que, hoje, militares descontentes e saudosos do tempo em que davam as cartas a seu bel prazer, encontrassem na IPB apoio irrestrito a um novo golpe militar.
            Irritados com o PT no governo, com a manifestação das minorias pelo reconhecimento de seus direitos, com as discussões sobre a legalização do aborto, os evangélicos, sinônimos, o mais das vezes, de conservadores, encampariam sem qualquer pudor um movimento que viesse, ainda que pela força, “moralizar” o país. Esperamos que 64 não ganhe vez novamente em nossa jovem e claudicante democracia. Por isso nossa manifestação.